SAMORA: COMO SERIA HOJE AOS NOVENTA ANOS?
Se Samora Moisés Machel estivesse vivo, completaria hoje, 29 de Setembro de 2023, 90 anos de idade.
Mas, infelizmente, os inimigos da Revolução, externos e internos, imbuídos de objectivos inconfessáveis, privaram-nos, como povo, do privilégio de contemplar a juventude permanente de Samora nessa idade.
De Samora, tudo foi dito. Homem do povo, proclamador da Independência Nacional, internacionalista, Homem querido pelas crianças, jovens, mulheres e velhos. Não há, pois, mais nada a dizer.
A sua imagem de patriota dedicado à causa nacional está eternizada dentro e fora do país. Dentro do país, foi valorizada com estátuas em sua homenagem em todas as capitais provinciais e a mais emblemática e à sua dimensão, ergue-se, imponente, na Praça da Independência, na Cidade de Maputo, Capital da República de Moçambique.
De resto, no que sempre houve de lacunoso nos órgãos do Estado, o povo sempre tratou de resgatar a sua imagem, os seus discursos empolgantes, a sua visão do país e do mundo, a sua utopia. Mas é, sobretudo, no domínio da sua integridade e sua relação de amor com o povo, que Samora colhe louros inquestionáveis.
Há correntes que defendem que Samora vive em cada um de nós. Mas, ao que parece, há gente em quem Samora jamais viveria. Samora não vive nos arrogantes, não vive naqueles que não atendem com cortesia os cidadãos nos seus locais de trabalho. Samora não vive nos não íntegros. Há, pois gente que não tem dignidade para que Samora viva nela. Por isso, Samora vive nos bons profissionais da Saúde, nos bons profissionais da Educação, nos operários e nos camponeses dedicados à sua actividade, nos jovens dedicados aos estudos, pois, Samora dizia que na Educação só investiremos em terreno fértil, na juventude consciente, seiva da nação, nas crianças, essas flores inocentes que nunca murcham.
Neste momento celebrativo da vida e obra de Samora, gostaria de mencionar um outro Homem de reconhecida integridade, simplicidade e dedicação incondicional à pátria e ao bem dos outros e companheiro de Samora; refiro-me ao Professor Rui Baltazar dos Santos Alves que completou, igualmente, a 24 de Setembro de 2023, as 90 primaveras.
Como advogado, se destacou na defesa gratuita dos prisioneiros políticos. Como Professor, formou muitas gerações de juristas em actividade na praça. Rui Baltazar foi e é meu Professor, entre outras disciplinas, de Teoria Geral da Direito Civil, sendo referência maior da leccionação do ponto de vista metodológico, avaliação e atribuição de nota. Trata-se de um homem justo. Ele não só fala da justiça, como a pratica.
Rui Baltazar foi o primeiro timoneiro do Conselho Constitucional, tendo dado forma e corpo ao actual aparelho, é o pai da Justiça moçambicana, por ter sido ele, enquanto Ministro da Justiça, a iniciar com o processo de instalação e atribuição de forma ao actual aparelho judicial; nos momentos mais difíceis, foi um dos ministros das Finanças com maior longevidade devido à sua capacidade de gestão criteriosa dos recursos escassos, probidade e combate ao despesismo. Por isso, este Homem, Rui Baltazar merece encarnar Samora!
Antes de terminar, gostaria de me referir aos golpes de Estado que têm proliferado pela nossa mãe África. Sejam quais forem os motivos, em democracia, a interrupção dos ciclos governativos deverá ser sempre por via política. Em cada quatro, cinco ou sete anos, os cidadãos são chamados a dizer se querem ou não alterar o status quo, por via de sufrágio directo e universal. Acelerar esse processo por violência resulta, sempre, em descontinuidades que podem contribuir, grandemente, para atrasar o nosso desenvolvimento, como continente.
A democracia exige paciência. Mudanças inconstitucionais são por demais e a todos os títulos indesejáveis. Desestruturam a organização política, económica e social. Colocam os mercados financeiros em polvorosa. Resultam em efeitos contrários à estabilidade macroeconómica. Já lá vão os tempos da Revolução dos Cravos, que ditou o derrube do regime ditatorial do Estado Novo de Portugal, ou dos golpes do jovem capitão Thomas Sankara para dar lugar a reformas comunizantes. Mesmo regimes como o de Augusto Pinochet acabam sucumbindo à democracia, como acontecera com o dele pelo referendo de 1988 dando lugar à restauração da democracia em 1990. Quem com ferro mata com ferro morre!
De todo o modo, isso não justifica que as elites políticas dos países com essa sangria golpista, nesse período de governação se apropriem, por via da corrupção, do que é de todo o povo. Não legitima que, anos a fio, se tenha substituído o colonizador branco pelo colonizador preto, nem deve significar a instalação do neocolonialismo, como dizia Samora. Isso não legitima que as elites governantes fiquem com sacos de dinheiro em suas casas em prejuízo da economia nacional e à revelia do sistema financeiro, nem legitima o culto à lavagem de dinheiro. Em suma, isso não justifica o despesismo barato com o povo à míngua.
Para terminar, e neste momento de celebração da vida e obra de Samora Machel, que cada africano, em geral, e cada moçambicano, em particular, se pergunte: se merece encarnar Samora.